30 novembro 2005

CACHORRO VIRA-LATA

Cachorra vira-lata. Cachorra vadia, sem rumo, sem casa. Cachorra sem raça. Sem pai, sem mãe. Cachorra que vive na rua, roubando comida, fugindo dos carros. Sem pedrigree. Sem nome chique, sem cama quente.
Cachorra que vai onde quer, quando quer e como quer...

Que anda sem coleira e mesmo assim sabe ser fiel como nenhuma outra. Abanando o rabo quando lhe dão comida, água ou carinho. Seguindo. Protegendo do perigo.
Cachorra forte. Astuto. Que reconhece o perigo de longe, sabe as manhas, os truques. Os melhores caminhos. As melhores comidas. As melhores pessoas. Não cai quando sente dor. Vacila, as vezes, e segue em frente. Não espera. Vai seguindo seu passo.
Tenho minha porção vira-lata. Essa que aceita qualquer carinho e ainda fica feliz por isso. Que olha desconfiada para o que está ao seu redor. Que tem medo, mas não pode ficar parada. Não pode ficar pra trás.

Também sei abanar meu rabo, ser humilde. Às vezes, até grata.
Reconheço quem me faz bem e sou fiel até o fim. Não ataco quem me fere.... deixo pra depois... pro dia em que minha mágoa se tornar algo mais forte que a decepção do momento.
Sou bicho vadio.
Bicho.
De duas patas. Com menos trejeitos, mais um pouco de inteligência e tão vadia quanto qualquer cachorra vira-lata que tem por aí. Sigo meu faro, meu instinto. Se digo "não" é porque é pra ser "não". Sem motivos lógicos, passo por complicada, por "dramática". Vou até o inferno se for preciso ajudar meu 'dono' com a mesma velocidade e coragem com que levo alguém a ele se me machucar demais. Sei conquistar com aquele olhar de quem está desamparado, porque sempre posso estar assim.
Posso lamber sua mão. Mordê-la. Ou simplesmente, me aninhar em cima dela para dormir um pouco. Gosto de receber carinho. Gosto de sentir os cheiros das pessoas. De ficar quietinha num canto, só vendo o ir e vir dos corpos, estudando cada gesto, cada passo. Gosto de ficar deitada, me espriguiçando, me esfregando... deixando meus cheiros, minhas marcas...
Não tenho o que me prenda. Tenho meu desejo. Minhas vontades.
Pensando bem.... sou mais vadia que qualquer vira-lata que conheço nas ruas.

29 novembro 2005

FALAR SOBRE MIM...

Falar sobre mim...
Características... Tipo físico... Olhos. Cabelos. Estatura. Peso. O que eu gosto de comer.O que eu gosto de fazer. De ler. Se eu durmo de bruços ou prefiro camisola de bichinhos. Se terminei a faculdade ou sou uma bruxa desgarrada. Se tenho namorado ou só alguns amigos. Se prefiro saia a calças jeans. Se gosto de nadar ou se tenho um gato persa em casa. Onde eu gosto de estar. Onde eu vou quando quero ficar sozinha. O que eu faço pra me divertir.
O que?
Quem?
Onde?
Como?
Por que?
Definições.
Sou personagem estranho perdida entre as convenções de uma vida certinha e os desejos de todo bicho. Entre as inseguranças da menina certinha que não pode errar nem estar num plano menor que a sombra da mãe perfeita. Entre a castração de um semi internato repleto de freiras infelizes e meninas solitárias e cruéis. Entre a adolescência cercada de ciclos, ora solitários, ora depressivos, ora suicidas. Entre o desejo de ser importante para alguém. De me sentir importante pra mim mesma.
Entre vidas perdidas e atos de uma peça antiga, apresentada num teatro de escola, a personagem se mostrou mais real e mais forte que aquela menina. Mudando de nomes como quem muda de fase. Se adaptando ao mundo que a cerca. Transformando-se. Criando vida!
Hoje, é ela quem me dirige. Quem me diz o que fazer, quem me conforta quando tenho medo.
Pluralidade.
Dualidade.
Perspectiva.
Alter ego.
Máscara Vienense.
Face da Deusa.
Pra alguns, fuga. Pra outros, declaração de solidão. Pra mim... uma outra face. Um ouro lado que só os escolhidos conhecem.
E ponto final!

28 novembro 2005

QUENTE. MOLHADA. ANSIOSA.

Estou aqui.
Deitada na cama, rolando de um lado para o outro. Quente. Molhada. Ansiosa. A espera da boca que reconheço como a dele. A boca que me toca as costas, o peito, a boca. Que me suga a língua e me devolve plena, ofegante.
Já li, ouvi música. Acendi velas, incensos, cigarros. Já devorei caixas de chocolates junto com duas garrafas de vinho barato que encontrei perdidas no armário do meu quarto. Já follheei revistas de moda, beleza e decoração. Mudei os móveis de lugar. Troquei os lençóis. Mergulhei na banheira repleta de água quente e sais até meu corpo enrugar e gelar. Me envolvi em cremes e óleos e cheiros e gostos. Tudo a espera daquela boca. Daquela mão. A mão que me envolve a cintura, me ergue e me ama. A mão que me aperta com força. Que me prende, me bate. A mão que me puxa o cabelo devagar enquanto me chama de "linda". Meditei. Relaxei. Fiz Ioga. Preparei uma macarronada. Enrolei brigadeiro. Pintei as unhas, cabelo e boca. Escolhi uma camisola preta e enfiei-e por entre as cobertas. Quente. Molhada. Ansiosa.
Fecho os olhos com força esperando me acalmar quando sinto o cheiro tão familiar. Ouço os passos pelo corredor. Reconheço o som da bolsa sendo largada numa cadeira qualquer. Sei que ele está olhando ao seu redor, tentando descobrir o que está diferente no lugar. Reconhece o cheiro que vem da cozinha. Caminha mais alguns passos e pára na porta do quarto tão ofegante quanto eu, lá dentro. Quando a porta se abre, me agarro nele como se fosse a primeira e a última vez. O peito firme, a curva do pescoço, a boca. Boca com boca, vendo se encaixa. Se combina. A cama desarrumada. Roupas, sapatos espalhados pelo chão. Os braços me erguem no colo. Me colcam na cama. Os corpos se medem. Um apreende o outro. A boca caminha em direção ao pescoço, a nuca. Explora as costas nos pontos menos conhecidos. A boca sususrra enquanto o peso do corpo se torna maior. As mãos tocam, acariciam, apertam. Encaixam. Roubam. Tiram a timidez e a vontade. Entre gestos e cheiros e bocas e pedidos e susurros e braços e coxas. Uma confusão de vontades que aprisiona os sentidos. A Criação do Mundo. O Suor. O Riso. O Olhar. A Renúncia. A Entrega. O Desejo. O Pedido. A Necessidade. A Paixão. As coxas que se abrem. Os Gemidos. O Tesão. O ritmo compassadamente urgente. Pequenos insultos. Nomes. Frases. Mãos que apertam a cintura, que invadem. Mãos que se agarram à cama, que empurram os travesseiros pra longe. Força. Abnegação para ser o outro. Ser do outro. Espasmos. Privação dos sentidos. Uma tentativa deseperada de fuga do espírito. Contração. Libertação. Corpos tentando fundir-se. Calor. A boca que morde a nuca, a orelha. O Cio. O Grito. Os corpos relaxam. Exaustos. Lânguidos. A busca das mãos dá lugar aos dedos brincalhões que se enroscam nos cabelos, nos pêlos. A boca que chama pelo nome. O Sorriso. O Abraço apertado. O Colo.
Estou aqui. Deitada na cama, enroscada tal qual um gato, entre pernas e braços. Aquecida. Num sono leve, feliz, desses de amor realizado.
If you want me baby,
you just gotta let me know,
let me know
if you want me baby,
you just gotta let me know,
let me know
Dont go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
Dont go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
if you need my baby you just got to let it show,
let it show
why dont you lower your defense,
theres no more room walls or fences
why dont you lower your defese,
theres no more room walls or fences
if you want me baby,
you just gotta let me know, let me know
if you want me baby,
you just gotta let me know, let me know
Dont go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
Dont go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
when i first saw you I felt something inside i couldn't hide
....well the first time i saw you
i felt something i couldnt hide
well the first time i saw you
i felt something i couldnt hide
So don't go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
Dont go chasing after butterflies
when everything you want
is right here by your side
if you need my baby you just got to let it show,
let it show

** Segunda-feira... enquanto acordes, violas, climas e canções traçavam caminhos diferentes na conversa...a cabeça se prendia em "Butterflies"...lembrando do texto... da noite que originou o texto... Um relato. Uma confissão velada que a gente faz ao travesseiro e toda noite se deixa levar por esse mundo de lembranças.

Amor traduzido em desejo. Em paixão! Em "fogo que arde sem se ver", mas que marca de tal forma que você se pergunta até que ponto aquilo tudo aconteceu de verdade, ou se era mais um sonho perdido entre as duas e três da madrugada....**


27 novembro 2005

PROMESSAS DA PELE

Anatomia...

O corpo limpo e quente. Pulsante... Nu.

Músculos e sangue sob a capa da pele que respira sôfrega, como num sonho... dessses em que a alma parece sair lentamente, deixando um corpo largado na cama amarrotada, num final de noite...

Tremor. Arrepio. Calor.

Pele sob pele. Pele com pele. Mistura delicada que apreende, absorve. Registra na carne do corpo do outro. Do cheiro do outro. Marca. Fere. Imprime.

Pele que se mistura com saliva, com suor. Com vinho barato e cinzas de cigarro. Com perfume de homem. Com batom. Com fumaça de boate e maresia.

O toque que faz o corpo relaxar imerso em desejo. A pele que se arrepia diante da certeza da boca. O corpo que, esgotado, se permite esquecer-se sozinho em meio à espuma.

O toque que aquece. Daquele que ama plenamente e que afaga os cabelos com a languidez de um gato acarinhado. O toque de quem se enrosca entre pernas e braços e pescoços e nucas com o único propósito de eternizar o momento. O carinho. O toque firme. Apertado de um abraço há muito esperado. Há muito idelizado.

O toque de quem deixou-se perder pelo tempo e que, numa roda-viva, se encontra com um passado mais real do que o segundo anterior. Disposto a voltar. A voltar no toque, no beijo quente que desce pelas costas, na promessa de reencontro. No continuar de uma história escrita entre sons, canções e beiras de estradas, que seguem para um lugar nenhum. Algum.

A boca que aguarda. Que sussurra na madrugada aquela canção que ninguém imagina ter sido escrita pra você. Por você. A língua que percorre os lábios numa tentativa inútil de esquecer as algemas, as juras. Os sonhos que, traçados entre conhaques e colos, eram tão presentes quanto o lábio agora mordiscado.

A boca que beija, que suga. Que tenta tirar daquele corpo a última gota de vida. A boca que, desejando inutilmente uma outra, fica entreaberta... enquanto o calor se esvai em meio à solidão.

As mentiras sussuradas. As promessas não ditas. As esperanças...

Calor e frio numa proporção igualmente injusta para ambos. Castelo de areia feito em uma noite de ressaca. O sorriso guardado na memória como prova real de algo que nunca aconteceu.

Água fria que recobre a pele. Que torna real a força do toque.

Boca.

Língua.

Olhos.

Mãos.

Colo.

Corpo.

Pernas.

Braços.

Pele.

Que se procuram e se encaixam. Que se largam. Que retomam oque foi deixado de lado.

Que brinca, seduz e atiça. Que envolta em óleos e lenços se traduz no beijo impresso na boca e se encerra com o fechar das portas num dia de sol.

*** feito ao som de "Being Boring", Pet Shop Boys, numa noite de lembranças e descobertas entre a solidão e o conhaque... ***

I came across a cache of old photos

And invitations to teenage parties

"Dress in white" one said, with quotations

From someone's wife, a famous writer

In the nineteen-twenties

When you're young you find inspiration

In anyone who's ever gone

And opened up a closing door

She said: "We were never feeling bored

'Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

When I went I left from the station

With a haversack and some trepidation

Someone said: "If you're not careful

You'll have nothing left and nothing to care for

In the nineteen-seventies"

But I sat back and looking forward

My shoes were high and I had scored

I'd bolted through a closing door

I would never find myself feeling bored '

Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

We were always hoping that, looking back

You could always rely on a friend

Now I sit with different faces

In rented rooms and foreign places

All the people I was kissing

Some are here and some are missing

In the nineteen-nineties

I never dreamt that I would get to be

The creature that I always meant to be

But I thought in spite of dreams

You'd be sitting somewhere here with me

'Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

We were always hoping that, looking back

You could always rely on a friend

And we were never being boring

We were never being bored

'Cause we were never being boring

We were never being bored