27 novembro 2005

PROMESSAS DA PELE

Anatomia...

O corpo limpo e quente. Pulsante... Nu.

Músculos e sangue sob a capa da pele que respira sôfrega, como num sonho... dessses em que a alma parece sair lentamente, deixando um corpo largado na cama amarrotada, num final de noite...

Tremor. Arrepio. Calor.

Pele sob pele. Pele com pele. Mistura delicada que apreende, absorve. Registra na carne do corpo do outro. Do cheiro do outro. Marca. Fere. Imprime.

Pele que se mistura com saliva, com suor. Com vinho barato e cinzas de cigarro. Com perfume de homem. Com batom. Com fumaça de boate e maresia.

O toque que faz o corpo relaxar imerso em desejo. A pele que se arrepia diante da certeza da boca. O corpo que, esgotado, se permite esquecer-se sozinho em meio à espuma.

O toque que aquece. Daquele que ama plenamente e que afaga os cabelos com a languidez de um gato acarinhado. O toque de quem se enrosca entre pernas e braços e pescoços e nucas com o único propósito de eternizar o momento. O carinho. O toque firme. Apertado de um abraço há muito esperado. Há muito idelizado.

O toque de quem deixou-se perder pelo tempo e que, numa roda-viva, se encontra com um passado mais real do que o segundo anterior. Disposto a voltar. A voltar no toque, no beijo quente que desce pelas costas, na promessa de reencontro. No continuar de uma história escrita entre sons, canções e beiras de estradas, que seguem para um lugar nenhum. Algum.

A boca que aguarda. Que sussurra na madrugada aquela canção que ninguém imagina ter sido escrita pra você. Por você. A língua que percorre os lábios numa tentativa inútil de esquecer as algemas, as juras. Os sonhos que, traçados entre conhaques e colos, eram tão presentes quanto o lábio agora mordiscado.

A boca que beija, que suga. Que tenta tirar daquele corpo a última gota de vida. A boca que, desejando inutilmente uma outra, fica entreaberta... enquanto o calor se esvai em meio à solidão.

As mentiras sussuradas. As promessas não ditas. As esperanças...

Calor e frio numa proporção igualmente injusta para ambos. Castelo de areia feito em uma noite de ressaca. O sorriso guardado na memória como prova real de algo que nunca aconteceu.

Água fria que recobre a pele. Que torna real a força do toque.

Boca.

Língua.

Olhos.

Mãos.

Colo.

Corpo.

Pernas.

Braços.

Pele.

Que se procuram e se encaixam. Que se largam. Que retomam oque foi deixado de lado.

Que brinca, seduz e atiça. Que envolta em óleos e lenços se traduz no beijo impresso na boca e se encerra com o fechar das portas num dia de sol.

*** feito ao som de "Being Boring", Pet Shop Boys, numa noite de lembranças e descobertas entre a solidão e o conhaque... ***

I came across a cache of old photos

And invitations to teenage parties

"Dress in white" one said, with quotations

From someone's wife, a famous writer

In the nineteen-twenties

When you're young you find inspiration

In anyone who's ever gone

And opened up a closing door

She said: "We were never feeling bored

'Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

When I went I left from the station

With a haversack and some trepidation

Someone said: "If you're not careful

You'll have nothing left and nothing to care for

In the nineteen-seventies"

But I sat back and looking forward

My shoes were high and I had scored

I'd bolted through a closing door

I would never find myself feeling bored '

Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

We were always hoping that, looking back

You could always rely on a friend

Now I sit with different faces

In rented rooms and foreign places

All the people I was kissing

Some are here and some are missing

In the nineteen-nineties

I never dreamt that I would get to be

The creature that I always meant to be

But I thought in spite of dreams

You'd be sitting somewhere here with me

'Cause we were never being boring

We had too much time to find for ourselves

And we were never being boring

We dressed up and fought, then thought: "Make amends"

And we were never holding back or worried that

Time would come to an end

We were always hoping that, looking back

You could always rely on a friend

And we were never being boring

We were never being bored

'Cause we were never being boring

We were never being bored