06 dezembro 2005

DEIXAR...

Coisas para deixar pra trás...
Lá fora está uma chuva fina... dessas que esfriam a noite, trazendo aquele vento frio vindo do mar.
Céu nublado e cinzento.
Assim com eu.
A televisão está ligada desde ontem à noite, numa orgia de imagens e frases sem sentido. Não sei o programa que está passando, embora eu esteja olhando para ela há mais de duas horas. Afundada entre cobertores e travesseiros, pareço uma personagem saída dos filmes de Woody Allen: desgrenhada, vestindo uma camiseta do Nirvana que eu encontrei da última vez que arrumei o apartamento, comendo todo o chocolate que eu escondi na cozinha e alguns biscoitos que alguém trouxe na última festa.
Estou pensando no que aconteceu... No que não aconteceu...
Estou pensando no fim.
Em como ele fechou a porta e saiu da minha vida...tão simples como entrou há dois anos atrás. Simples.
Essa é a melhor descrição. A única.
Deitada aqui descubro que acabou o encanto da bailarina. A "mágica" da caixinha de música foi descoberta e, entre molas e engrenagens, ela jaz quieta, imóvel. Sem seu bailado tão gracioso e sedutor, ela não tem mais motivos para existir e, assim, ela é deixada de lado em algum lugar perdido...
Deixamos tantas coisas para trás...
Boas ou ruins. Livres. Cálidas. Eternas. Coisas que perderam o sentido. Coisas que trouxeram alegrias, dores e sonhos. Coisas que o girar da roda nos obrigama deixar para trás. Simplesmente, deixar para trás.
A noite está quieta lá fora.
Talvez seja efeito do vinho ou da loucura. Ou talvez, seja efeito dessa minha tristeza, disfarçada de melancolia ou de apatia. Ou talvez, a noite realmente esteja tão quieta como esse quarto que, agora, me parece tão vazio e triste.
O quarto. O cenário.
Relatividade.
Infelicidade.
Medo.
Nunca pensei no que a bailarina faz depois que ela é deixada...

VELHAS ESTRADAS...




Eu quero sempre mais de ti.
Ansiedade. Nove letras. Quatro consoantes. Cinco vogais. Uma coisinha tão insignificante e que faz um mal tão absurdo!!... Sai corroendo o corpo, a alma, o espírito, o sono, a fome, a alegria...Tudo!!
A espera de alguém. De alguma coisa. De algum acontecimento. Um recado. Um sinal. Qualquer coisa!!!! Até mesmo um milagre!!
Estou à espera de uma vida nova. De novos planos. De novos rumos.
Estou à espera de um amor. Desses que a gente vê em filme americano e acha que pode encontrar na esquina, com aqueles sobretudos, guarada-chuva e joranal embaixo do braço.
Estou a espera de um novo rumo na vida: amigos novos... novos lugares pra conhecer, explorar, descobrir...
Estar a espera.
A cada vez que escrevo essas palavras, vem a iamgem de uma estrada de ferro. Dessas que partem de algum lugar para outro ainda mais indefinido... distante... com um caminho de pedras ao lado, com algumas plantas e árvores.
Me vejo sentada, num tronco, com uma mala bem surrada ao lado, usando um vestido florido, chapéu e um tênis velho nos pés. Olhando para os lados... Esperando o trem passar e me levar dali.
Uma idéia de apatia, conformismo misturada... fundida a esperança de dias melhores, dias de sol e paz.
...
Estranho falar de conformismo. Logo eu que sempre busquei algo mais... Algo diferente.
Busco, encontro, espero ser encontrada. Um jogo de gato e rato. Eu e meus desejos e meus medos. Todos correndo... uns atrás dos outros, sempre sem alcançar e sempre correndo e sempre e sempre e sempre e sempre.
Estou a espera de mim mesma. De me encontrar numa esquina mais madura, mais independente, mais mulher. Mais do que sempre fui. Mais do que pretendi ser um dia, lá atrás, quando meu maior sonho era ser... sei lá... já faz tanto tempo...
Minha estrada é querer sempre mais... mais de mim... mais de todos....
É querer sempre mais...
É ter sempre mais...