Coisas para deixar pra trás...
Lá fora está uma chuva fina... dessas que esfriam a noite, trazendo aquele vento frio vindo do mar.
Céu nublado e cinzento.
A televisão está ligada desde ontem à noite, numa orgia de imagens e frases sem sentido. Não sei o programa que está passando, embora eu esteja olhando para ela há mais de duas horas. Afundada entre cobertores e travesseiros, pareço uma personagem saída dos filmes de Woody Allen: desgrenhada, vestindo uma camiseta do Nirvana que eu encontrei da última vez que arrumei o apartamento, comendo todo o chocolate que eu escondi na cozinha e alguns biscoitos que alguém trouxe na última festa.
Estou pensando no que aconteceu... No que não aconteceu...
Estou pensando no fim.
Em como ele fechou a porta e saiu da minha vida...tão simples como entrou há dois anos atrás. Simples.
Essa é a melhor descrição. A única.
Deitada aqui descubro que acabou o encanto da bailarina. A "mágica" da caixinha de música foi descoberta e, entre molas e engrenagens, ela jaz quieta, imóvel. Sem seu bailado tão gracioso e sedutor, ela não tem mais motivos para existir e, assim, ela é deixada de lado em algum lugar perdido...
Deixamos tantas coisas para trás...
Boas ou ruins. Livres. Cálidas. Eternas. Coisas que perderam o sentido. Coisas que trouxeram alegrias, dores e sonhos. Coisas que o girar da roda nos obrigama deixar para trás. Simplesmente, deixar para trás.
A noite está quieta lá fora.
Talvez seja efeito do vinho ou da loucura. Ou talvez, seja efeito dessa minha tristeza, disfarçada de melancolia ou de apatia. Ou talvez, a noite realmente esteja tão quieta como esse quarto que, agora, me parece tão vazio e triste.
O quarto. O cenário.
Relatividade.
Infelicidade.
Medo.
Nunca pensei no que a bailarina faz depois que ela é deixada...