11 dezembro 2005

RECOLHENDO CONCHAS...

Sol.
Mar gelado, forte.
Ela estava sentada em meio a multidão de línguas e sons diferentes. Ela estava isolada em meio a cangas, barracas e crianças.
Olhando o mar que quebrava com força na areia, ela se lembrou de quantas vezes já tinha feito isso. Quantas vezes ela foi se aconselhar com o mar, dizendo-lhe coisas que ninguém sabia. Que ninguém imaginava.
Ela se lembrou das vezes em que chorou, riu, se despediu diante do mar...
Se lembrou das milhares de vezes em que viu o sol nascer, vestida com roupas de festa e sozinha na areia.
Das vezes em que viu o sol de por depois de um dia pintado a mão por Dali e de como aquele final de dia foi importante pra ela.
Ela se lembrou e chorou...
Pelas vezes em que desistiu daquele sol e daquele calor pela solidão do quarto escuro.
Pelas vezes em que se despediu de grandes amigos entregando uma rosa branca a Iemanjá, pedindo-lhe que guardasse somente os bons momentos e as boas lembranças.
Por todas as vezes que ela foi até aquele mar, pedir conselhos e sinais como se não soubesse lê-los com seus próprios olhos.
Por todas as vezes em que deixou o corpo afundar no mar agitado, sentindo apenas a água salgada entrar pelos pulmões.
Por todas as vezes que sentiu o mesmo sal rolar até cair no chão, no travesseiro, nas mãos...
Ela chorou até que seu corpo doesse e que se coração estivesse vazio...
Chorou até ouvir suas próprias mentiras ecoarem por toda a praia.
E quando tudo silenciou, ela se levantou e, mais uma vez, foi em direção ao mar...
Caminhando devagar, com passos incertos, ela foi avançando mais e mais na água gelada até ter seu corpo todo coberto por ela.
E ali, na imensidão e na solidão, ela viu a única pessoa que poderia tirá-la daquela tristeza sem motivo...
Ela se viu!
Linda como sempre fora...
Inteligente, como sempre fora...
Tendo dois ou três amigos em que ela podia confiar sua vida e sua morte...
Tendo mais uma chance de recomeçar do zero e provar a si mesma que ela era capaz de criar o mundo se ele fosse destruído naquele momento.
E olhando-se nos olhos, pela primeira vez na vida, ela tomou impulso e emergiu!
E caminhando ereta, olhando para o sol, ela foi, mais uma vez caminhar pela praia e ver mais um por do sol, sentada nas pedras, sorrindo pra si mesma e rodada pelas conchas que ela encontrou no caminho.

Nenhum comentário: